quinta-feira, 29 de abril de 2010

DESABRIGANDO ANSEIOS



Um dia fugi de casa.
Como pássaro que vai embora por uma distração do seu dono,  nunca mais volta à gaiola.
Joguei fora aquele brinco, cujo par, eu perderá em uma noite que já não faz mais sentindo algum.
Também deixei que escapasse o cheiro envelhecido das pétalas mortas de amor perfeito que eu guardara dentro daquele livro predileto.
Acordei aqueles olhos inocentes que dormiam em um sonho fugitivo.
Abri as comportas e me deixei levar pela correnteza.
De o silêncio deixado jorrar, ouvi gritos contidos naquele velho sigilo trancado.
Fugindo, fui deixando pelo caminho as peças de roupas que não me serviam mais.
Percebi que era pouco o que tinha agora .
Parei, olhei tudo se dissipando e segui, levando apenas um bando de pensamentos.
Só isso.

domingo, 11 de abril de 2010

SOLIDÃO: lado a lado com ela



Tenho medo da solidão.
Quando sinto o seu cheiro pela rua e o leve toque das suas mãos acariciando meu corpo.
Apavora-me e encanta, a sua respiração ofegante arfando ao meu lado.
Quando apago as luzes e a sua alma gelada de fantasma me perturba e dorme ao meu lado.
Tenho medo dessa solidão que chega de repente no riso inexpressivo.
Dessa solidão que me aborda na hora do choro sem um ombro disponível ao sofrer impregnado.
Solidão é a falta de ar quando dói o peito.
Tenho medo da solidão no copo vazio, quando espero alguém com carinho.
Tenho medo da solidão em cada ruga que me aparece.
Onde tenho mais medo da solidão, é quando a encontro ao redor de quem eu queria companhia.
A solidão me afeta os nervos, desfigura meus sonhos.
Com ela nos encontramos em terra fria.
Tenho que suportar a solidão quando se faz em nó na garganta.
Tenho medo da solidão nas palavras.
Quando o coração chama em silêncio por o amado.
Tenho medo dos seus olhos na embriaguez barata que se estende na madrugada.
Na manhã cheia de ressaca amarrotada de noite.
Demasiado é o degustar da sua companhia.
E quando a chuva vier quero me despir dessa capa nostálgica que me envolve.
Molhar-me na abundancia de uma coisa chamada vida.
Não compreendo, mas, a solidão me alucina.

sábado, 3 de abril de 2010

NOSTÁLGICA LEMBRANÇA




Ela se aproximava, carregando no seu ventre um reservatório de vida, a nuvem vinha pesada.
Navegando no azul do horizonte, derramando aos poucos o seu chuvisco ela surgia.
Eu, perdida na chuva dos meus olhos quase me alaguei, fazendo parte daquele semblante de tarde triste cheirando a terra molhada.
Uma saudade dos tempos inocentes de menina me inundou, quando corria na chuva com as outras crianças como se a vida fosse eterna e plena.
Naquele tempo eu não entendia por que existia a tristeza.
Senti no corpo a sensação de quem navega em um navio nostálgico em alto mar.