domingo, 23 de setembro de 2012

PREPAROS PARA A CHEGADA DE UM AMOR



Com a mesa já posta e os talheres devidamente colocados no lugar, ela o esperava.
Um aroma delicioso vindo cozinha denunciava as medidas exatas dos temperos usados por ela, para o preparo do jantar.
A idade do vinho também evidenciava a importância da ocasião.
Ester tinha cabelos longos e levemente ondulados que deslizavam delicadamente pelo contorno das suas costas claras intensificando o negro dos cachos.
Seus olhos também eram pretos e assim como a noite guardavam segredos.
Benjamim era alto, tinha olhos castanhos e pele morena e não sabia por que amava Ester, mais a amava cada dia como se descobrisse uma novo artefato dentro do seu tesouro.
Aquele rapaz encantara aquela moça, e era tão envolvente aquela paixão a ponto de tirar seu sono.
Ela sentia o cheiro dele, mesmo quando a sua presença ainda era longínqua.
Os dias de Ester eram uma devoção e seu coração chamava por ele constantemente, assim como planta em dias de seca clama pela chuva.
Outro universo se formou ao redor da sua vida como uma flor protegida por uma redoma.
A hora marcada se aproximava e, o que cobria o corpo de Ester era um curvado vestido de cores fortes e insinuantes. Seu coração batia descompassadamente como se as horas estivessem paradas dentro daquele momento.
Um vento frio invadia as venezianas e um silêncio se espalhava pela casa.
Todos os dias eram um novo começo.
Aquele era um novo começo para um novo amor.
Uma eternidade dentro de um coração.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

AMAR COMO SE COMTEMPLA UM PÔR-DO-SOL

                                                                                                             Por Izabel Goveia


Agora eram outras sensações, acordar ao seu lado fazia parte da sua rotina.
Ele estava para ela como o sol está para o dia.
Era os raios que invadiam as frestas das suas horas matinais, clareava suas pálpebras semicerradas e sonolentas.
O amor estava para ela assim como a flor está para o jardim, e o beija-flor está para flor.
No seu coração existia aquele sentimento pulsando, como uma vida que nascia dentro dela, e ele quando distante permanecia ainda mais na sua memória.
Quando perto, suas mãos se entrelaçavam com ímã, rio e mar se encontrando na constância dos dias.
Ele era concha, ela era pérola.
Ele era o olhar, ela era paisagem.
Ela era poesia, ele musica.
As notas se perdiam nas palavras, as palavras perdiam o sentido para encontrar outros.
Amá-lo era pássaro voando sem direção, só pelo encanto de voar.
O que ela sentia era sempre como um horizonte de cores indecisas de fim de tarde, eterno.
Teve um tempo que ela era noite, e ele a presenteou com a lua acompanhada de estrelas.
O amor se define em ânsia.
Ânsia pelo corpo, ânsia pela alma, ânsia pelo eterno.
Ele já era tudo isso.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

ELA DE OLHOS ACINZENTADOS DENTRO DE UMA MANHÃ




Era um dia frio que doía na ponta dos dedos, o moletom que há muito na saía do armário deu trajes novos e traços finos para a moça que esfregava as mãos sentada a mesa.
Pela porta entreaberta entrava um vento sorrateiro que esfriava os seus pés, ela encolhia os dedos ainda mais dentro das meias.
Lá fora a vida estava acinzentada e orvalhada de pequenos pingos de gelo que davam  traços cristalizados de inverno para aquela manhã.
A fumaça esbranquiçada saía da chaleira que ardia em calor no fogo. 
Após alguns minutos com o café devidamente passado a moça enquanto aquecia suas mãos na xícara, saboreava em pequenos goles o café que prazerosamente ainda estava bem quente; o hálito ardente da xícara aquecia seu rosto enquanto ela de olhos semicerrados sentia  despertar as sensações que se escreviam dentro daquela manhã. Dentro da sua vida.
Olhou ao redor e o silêncio repousava em cada móvel dentro daquela casa, como a poeira baixando após um redemoinho.
Abandou o café e decidiu buscar algo novo, ainda era cedo demais para receber visitas tão fortes de algumas lembranças naquele dia. Não queria a sua história e, sem escolher pegou um dos livros que estavam espalhados pelo seu quarto, se envolveu nas cobertas confortáveis e leu por algum tempo que pareceu eterno dentro daquelas palavras.
 Quando fechou o livro e retornou para o seu mundo, o dia ainda estava coberto de neblina e as horas, bem as horas já não importavam, por que, dentro da sua alma o tempo não tinha passado.