terça-feira, 31 de março de 2009

COMO SE FEZ O AMOR




Ela era apenas solidão manchada com a ternura dos momentos que tinha vivido ao seu lado, nada de resquícios concretos como uma camisa guardada no fundo da gaveta ou um poema deixado por ele entre seus livros, na leve desorganização do seu quarto, na verdade nem o seu quarto, nem os livros ele chegara a conhecer.
O amor deles se fez num percurso cheio de ruas, no vagar das noites, não no acolhimento de uma cama cheia de cobertas. Eles preferiam assim, o frio sonolento da madrugada, gostavam de aventuras. Era mendigos de ilusões.
Com a vida curta o amor precisava existir como se cada minuto fosse um ano, assim eles podiam ter uma idéia de eternidade, eles sabiam. No país dos seus sonhos havia flores o ano inteiro.
Ela, era poética, carregava nos ombros muitas tristezas, mas ninguém nunca a vira cansada de sorrir, gostava de enganá-las.
Ele,era uma espécie de solidão que ela não compreendia, seus olhos costumavam se perder no infinito do nada, quando isso acontecia, ela sorria e ele, voltava depressa para ela, talvez procurassem um saciar de alma. Na eternidade do momento eram um casal que já viviam há cem anos, dois velhinhos num banco de praça olhando o nascer da lua... Assim eram felizes sem acreditar que a noite acordava o dia, o dia era cotidiano na vida deles...
O tempo passando, tristeza se fazendo como o céu se preparando pra chover...
Era vazio sendo implantado no peito, num espaço pequeno, rasgando a carne.
Ele. Ele indo embora, ela sem poder partir... À medida que a distância aumentava, ambos sangravam de ausência como represa cheia. No desespero da partida os dois pareciam viajantes na beira da estrada, acenando e implorando para que o tempo não os deixassem separados . Mais o tempo disse: - Flor em fim de primavera se dissipa...
Choraram, partiram um do outro; e no vazio que deixaram, o vento dançou com a tristeza, a noite vendou os olhos da lua ela poeticamente sensível. A amante era mulher, mais no seu corpo ainda chorava uma criança e para fazê-la dormir, a ilusão contou-lhe uma história... Ele já era sonho...
Ao seguir dos dias, o deserto caminhava... E tudo se fez assim... Correndo. Um rio se fazendo no curso de cada lágrima que caia e deslizava nos cabelos da saudade para um lago profundo: Ausência.
As bordas de suas lembranças estavam ressecadas de solidão, havia sede.Sem explicações
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