quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

INUNDANDO-SE NO VIVER – como não seria assim





Ele vive sentado na janela das paisagens que tanto aprecio.
É só dar um vento no capinzal que lá está ele. Confundo-me no que é mais belo, se o capinzal ou a minha procura de um olhar.
Valsando com a menina dos meus olhos ele faz do meu sono uma festa.
Esconde-se na cortina entrelaçada dos meus cílios para depois me desejar bom dia.
Brinca de acalento nos meus cabelos trançando de poema minha manhã.
Quando triste, ele flutua nas minhas lágrimas e chora junto com elas.
Do meu olhar o que será ele senão uma eterna colheita.
Uma apreciação.
Tão colibri ele é, fazendo pouso na saudade já apurada como mel de flor.
Do sempre, quero somente o manchado envelhecido do tempo nas folhas de um papel que deixarei escrito a devoção das minhas palavras.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

PONTILHANDO UM SONHO – Uma lembrança revestida




Ainda lembro da lágrima borrada na sua face.
Tudo se arruinou.
Perdeu o encanto para aquela contemplação festiva.
A rua ainda estava molhada do sonho que transbordara.
A chuva de carnaval com as suas lágrimas coloridas de confete caíam sobre a noite, já apresentando resquícios da triste manhã acinzenta.
A caixinha de música perdeu o som e o seu dia escorregou na monotonia das horas desmascaradas.
Restos de fantasias ainda coloriam o morrer das ruas vazias de alegria.
Uma ilusão de pássaro pousou no galho da árvore quase desnuda.
E ela alegre jogou suas folhas mortas no chão para vestir-se unicamente com a clorofila que vinha correndo nas artérias do seu âmago.
Com o seu pouco verde, ela ainda podia conseguir a contemplação de um olhar.
Vestir o seu mundo, sentir o corpo revigorando da carcaça inerte.
Com o bordado de água ela pontilha o seu vestido de criança.
Amei a máscara feita de sonho que cobria os olhos da menina triste.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

SABOREANDO AS ESTAÇÕES DE UM OLHAR



Quero escrever esse texto com sabor de algodão doce.
Dar-lhe vida antes mesmo que a sua primeira respiração taciturna possa existir no meu ventre dando sintonia às palavras.
Pensar na sua existência completa é amar uma rosa vestida de vermelho desabrochando para o cortejo dos olhos tristonhos.
Quero aqui dizer que se falar em alma é brincar de ciranda. É também saber amar o desenho de uma criança como se fosse A Alegoria da Primavera do Botticelli.
É saber amar o amado que já partiu, como se ama a poeira cósmica que guarda o fulgor do espírito das estrelas que fecharam seus olhos.
Na plenitude quero alegrar minhas vestes para uma espera.
Quero presentear o mar com flores na esperança que o juramento se cumpra.
Quero regar as árvores secas e sem vida.
Quero também que o vento da noite semeie os meus desejos, para que as ervas daninhas não corroam meu coração.
Quero sentir uma lágrima alegre molhar meu sorriso.
Quero, espero, anseio que teus braços enlacem minha vida e nossas almas se encontrem como no sonho de balão voando no céu.
Sei o que sinto.
Somente.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

CASULO ABANDONADO



Como uma mulher que tece a mortalha para esperar o corpo do filho voltar da guerra, me senti paisagem manchada de tristeza.
Um soldado em tempos de guerra sonhando com o cheiro de frutas frescas colhidas no quintal de casa.
Um aroma sonhado, uma flor brotando em meio à carnificina.
A neve congelou meus pés e o frio taciturno da montanha entorpeceu os meus pensamentos.
O trovão da tempestade ensurdeceu meus ouvidos.
Os arbustos fecharam o caminho que outrora fora um rumo para os meus dias cheios de névoa.
Sou um pássaro que voa sobre um oceano que, cansado se entrega ao mar como se, oferenda fosse.
Amputaram meus sonhos desnudos na ternura da entrega.
Confidenciando um desejo, me entreguei ao inimigo.
Meu coração é uma aranha que tece sua teia no escuro mistério da noite e, ao amanhecer oculta-se como
bicho assustado.
No horizonte se guarda a ânsia de um olhar, uma espera.
Uma âncora se aprofundando nas águas do cais abandonado.
No entanto, na insignificância dos dias, aos poucos a existência se renova.
Um broto de vida também pode nascer de um tronco decepado.
Tudo se metamorfoseia na vida, uma marionete do tempo.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O CHORO DA NOITE – orvalho de melancolia





Tudo dormia.
Apenas um pirilampo vagando sozinho na madrugada, com a sua pequena lamparina e o seu feixe de luz solitário, iluminando somente o seu minúsculo corpo suspenso no ar. A noite sonâmbula vaga desnorteada entre as estrelas e os troncos misteriosos das árvores.
O que se ouve respira em mim, como animal hipnotizado.
Minha vida calada, sem atrito com as horas, aflora. Qual será o próximo casulo que ela se enrolará.
Uma criança é entregue ao rio como oferenda, e o vento noturno a leva naquele barco sem destino algum.
Meus olhos são fontes para o regato das lágrimas, que se fazem em cachoeira e deságuam na terra fria da paisagem desnuda do ser que naufraga em alto mar.
Sou raiz que suga da terra das solidões o choro da saudade, nutrindo assim a árvore sonolenta desses dias frios e tristes de uma lembrança que dói no peito.
Qual será o sentido das pedras inertes?
Profundo é o mistério da gruta cujo em suas paredes virgens, foram rabiscadas as primeiras escrituras da vida humana.
Mais afinal, em toda a existência, para quem foi devotado o primeiro olhar de saudade.
Assim tudo é peneirado, e tudo flui.
Tudo dormia.
E um coração acordava.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A INSTROSPECÇÃO DA ROSA EM TERRENO FEMININO



Descobrir.
É assim que tem que ser.
Como um jardineiro busca a beleza de suas rosas cultivando seu jardim todos os dias.
Tem que adubá-lo corretamente, regá-lo nas horas certas para que assim possam nascer novos galhos, novas folhas e flores exalando perfume.
Quando não requer desses cuidados a rosa chora, emurchece e fica despetalada, ausente dos carinhos das mãos daquele homem que a faz sentir-se em plenitude no seu amanhecer.
Um carinho de orvalho deslizando pelos seus contornos.
Quando está triste sonha com um colibri.
Na salvação de um beijo, conduzindo sua essência para um germinar em outro mundo coberto de sensações.
O vento noturno a faz sentir a dor arranhando as suas pétalas e perfumando outros espaços com o cheiro de seus cabelos.
Aroma de mato recém-nascido
Tão misteriosa é a sua beleza.
Morrer para renascer.
Enfim.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

LACRIMEJANDO UM SONHO – serenando saudade




Não tenho idéia, nem ilusões.
As que me passam por aqui são resumos do que já foi um dia.
O pergaminho que está escrito a língua do tempo, ainda contem a tinta fresca dos rabiscos de uma vida, escorrendo nas minhas mãos impunes.
Um fantasma está refugiado nos escombros do bombardeio, e na permeabilidade da dor meu pensamento é uma nota perdida da harmonia, embrulhada em um pedaço de som vagando no ar, ninguém pode lhe ouvir, senão a poesia do seu existir.
Acidento-me nas crateras que foram abertas por a tempestade noturna.
Nessa escuridão que me abita, posso encontrar tudo o que anseio, tocar as coisas e senti-las minhas, e no despertar da minha consciência, posso abrir olhos e ainda assim tudo será penumbra para esse vôo raso.
O silencio se transborda em chuva, e no seu existir, tudo se faz no pequeno espaço que sobra no intervalo das gotas.
O sofrimento é um lagrimejar de sereno, uma reserva nostálgica de um manancial.
Um dia encontrei resquícios de uma alegria fingida, era um resto de maquiagem do palhaço que adormecera sobre o cansaço e as cobertas úmidas de uma madrugada gelada.
Tão encharcada é a saudade de um tempo, que se colhia flores não pra enfeitar seus mortos, mas, para adornar a casa em uma manhã dominical cheia de crianças correndo pela sala com os seus risos e gargalhadas festivas, com os seus olhos tão primaveras.
Na vida, nesses momentos solitários ouço as minhas pulsações arfando em um buraco negro.
Meu coração sempre me desconserta, quando está agonizando.
Penso na morte e me despeço.
Lembro da tarde que fugimos com quase nada nas mãos, apenas com um resto de sonhos guardado em nós.
Eu, e minha alma estamos em um lugar inabitado, sem o sonho-bússola que nos indique o caminho de casa.
Naquela tarde ainda sentíamos o cheiro do perfume doce que aquele sonho carregava.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O SOL SE VESTINDO DE CREPÚSCULO






A tarde terminado seu expediente diz ao sol que se apronte, pois, já está na hora de terminar sua luminosa tarefa de esconder a noite, ele já preguiçoso deixa que o anoitecer se aproxime devagarzinho por entre as folhas das árvores, para não assustar a natureza com sua enorme escuridão, enquanto isso, ele fica a admirar a beleza de seus raios acariciando o verde mesclado das folhas recém-nascidas.
O vento que sempre está presente o convida pra brincarem um pouco antes de sua partida, e o sol feliz não resiste ao belo convite.
E juntos brincam alegres se escondendo em meio a todas as folhas, balançando as árvores e derrubando cada vez mais as vestes da noite, claro que com isso, o sol esse menino sempre risonho vai se despedindo porque sabe que acordando a noite não pode ficar no mesmo lugar que ela.
Quando a noite abre os olhos, o sol tem que cerrar os seus. Nunca se olham, mais andam sempre abraçados.
E eu, pequeno ser, sou apenas uma contempladora de tamanha beleza e, na leveza dessa hora é como se o fragmento da felicidade delineasse toda uma vida de um olhar.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A UM SONHO




Era aquele olhar de lençol secando ao vento em uma tarde de verão, mas ela não compartilhava essa paisagem com ele, pois, quando o olhar dele tentava tocá-la, ela rapidamente se escondia como animal assustado.
Como explicar as metamorfoses da vida?
Qual a distância entre a flor e ansiedade que a borboleta tem de beijá-la?
(queria) um desejo de ser pólen germinado por toda o solo de teu sentir, queria doer nos teus olhos de tanto jardim florido que estaria eu, deslumbrar os órgãos dos teus sentidos perante a minha veste de primavera.
Que a pintura do meu ser fosse desenhada pelo teu olhar.
Que tuas mãos desvendassem meus territórios e o meu segrego de emergi em paraíso perante ti.
Que a tua voz soasse em meu ouvido como calafrio.
Um simples abraço, um resto de perfume esquecido na pele, um resquício, por acaso a moça sente o cheiro dele no seu corpo e, dessa coisa tão pequena faz o seu pedaço de sonho naquela noite.
Um coração bate.
Um desejo aguçado.
Um gosto deixado na boca.
Queria a ilusão de uma primavera mesmo que, com o tempo as ervas daninhas matassem as melhores flores...

RASGANDO A DOR E AGONIZANDO UM SENTIR




Hoje o meu despertador foi o barulho do vento nas cortinas, o sol foi abrindo a porta devagarzinho acordando meus olhos preguiçosos.
As cobertas aquecidas, quase não deixaram eu levantar com frio leve que adornada o meu quarto.
Acordada, comecei a fazer as primeiras coisas do meu dia corriqueiro.
Tomei meu café da manhã e amante devota, pensei nele como prato predileto, claro que com essa refeição me alimento sempre em pequenas porções para que seu fim seja tardio.
O que vou fazer do meu dia, pensei.
Primeiro quero degustar todos os temperos solitários dessa manhã, onde eu me olho tristemente no espelho para não me sentir tão só.
Meus olhos são vazios.
Vejo-te pelos quatro cantos da casa.
Queria ser dança para os teus passos desnorteados.
Queria eu, aos teus olhos ter uma elegância no caminhar.
Amo os teus vícios, a tua elegância quase rude.
Queria eu, que a simetria das minhas curvas fosse perfeita para os teus caprichos.
Sinto a lembrança me beijando a pele, dos meus dedos entre os teus cabelos pequenos.
E um cansaço lacrimejado me abriga, como casinha no campo em plena tempestade.
Diante das algemas, estou entregue.
Hoje o que tenho a te ofertar são as minhas dores, meus cansaços, os meus braços já entregues a seringa, doando a última lágrima de sangue que resta nas veias.
Vivo sempre adubando meus dias, mais sempre vem o verão e resseca a terra em que minhas ilusões foram plantadas.
Meu corpo não tem luz própria.
Cá dentro dói.
Teus olhos outonos me deixam tristes.
O enigma da fumaça se misturou a meu sonho e agora não sei me decifrar.
Tudo é tão sombrio.
Quero a embriaguez das melhores flores para o meu dia fúnebre.