quinta-feira, 24 de março de 2011

MULTIPLICANDO-SE EM SONHO E REALIDADE



De repente ele saiu do meu sonho e descortinou minha vida como se fosse um mensageiro há dizer coisas das quais eu jamais imaginava.
Era um dia chuvoso cheirando a nostalgia.
Mais ele apareceu e sorriu pra mim como se fosse um raio de sol se favorecendo do descuido das nuvens para fugir pra terra.
Era um sonho acordando, tocando na manhã e adornando os seus primeiros passos.
Vê-lo, foi como ver o mar pela primeira vez.
Encanto se unificando à paixão.
Já não era mais ele naquela fotografia já desnuda pelos meus olhos que, tantas vezes, contemplaram aquela face como se fosse um paraíso onde os meus desejos estavam guardados.
Já era ele de carne e osso, e meus olhos se encheram de broto com os primeiros sinais de chuva.
Como se o filme em preto e branco estivesse ganhando cores.
Foi como se o sonho pudesse tocar no real.
Só depois do vendaval saberemos quão forte é a roseira.
 O barulho anuncia a sua chegada, é o vento entrando pela casa  bagunçando meus cabelos e puxando na minha saia parecendo travessura  gente de pouca idade, isso é apenas um recado de como eu devo ornamentar a casa para uma chegada.

quarta-feira, 16 de março de 2011

PINTANDO UM QUADRO DENTRO DA ALMA



Há uma cruz na minha parede.
Também há quadros que parecem pensativos dentro de sua paisagem, taciturnos.
Há flores, pedras e abraços por todo canto da sala, numa pintura feita com dedos e ilusões.
Porém, viajo no que existe inacabado dentro da moldura de um deles.
 E vejo um velho sentado na soleira de sua porta a esperar pelo que lhe resta.
 Seu corpo padece, sua alma naufraga, seus olhos já arrasados fitam o pouco do azul do horizonte quase descolorido pela fraca visão.
Os dias ofuscados existem agora em cima de restos do passado.
Fortes dores o carregam para um abismo desconhecido.
Suas feridas abertas ao relento doem, seus olhos choram ao ver que a sua sombra é composta de solidão.
Tudo partiu: seus amores, suas aventuras da mocidade, seus amigos, seus poemas, o cheiro de infância, até suas canções tornaram-se composições tristes.
O velho ver a janela do tempo se fechar, nos seus braços já não guarda mais um cheiro da vida que guardava quando criança.
O cansaço da vida deixou seus olhos fundos.
As enxurradas de lágrimas deixaram o seu fôlego pequeno.
 E o espelho do tempo vai se ofuscado lentamente...
A vida e suas dualidades acontecendo em uma coisa chamada instante.

quarta-feira, 2 de março de 2011

SEDE DE EXISTIR DENTRO




Aconteceu incessantemente como fogo árduo penetrando em uma mata virgem.
Sorrateiramente o vento conduzia esse fogo como se fosse um pastor conduzindo seu rebanho de ovelhas.
Que fogo seria esse?
As árvores estavam afoitas, tempestade premunida.
As sementes viviam no sentir do seu princípio fecundado.
Existia uma lembrança frondosa do passado, de uma coisa vinda do início dos tempos e que não tinha explicação.
Um ardor também existiu no seu âmago e ela chorou espontaneamente.
Era o antigo vulcão adormecido querendo acordar, mais ela não sabia se isso era bom, só estava desértica e queria chuva.
Uma sede estranha tomava sua garganta como cachoeira que pára de jorrar.
E em um êxtase de chama, num múltiplo orgasmo de ardor, o vulcão já era erupção dentro da sua geografia.
E a terreno do seu corpo em metamorfose, conheceu seu princípio e sentiu um estranho prazer.
Ela apreciou a origem do embrião que pulsava dentro de si, dentro da composição de um néctar de nós, e que florescia em chama.
As nuvens choraram sem conhecer tal motivo, também queriam amar aquela paisagem.