segunda-feira, 29 de março de 2010

ESBOÇO DE UMA ALMA EM FUGA




A dor decepou a mão que ofertava para o papel os seus escritos e a página arrancada e amassada com tristeza não pôde mais ser confidente de um amor guardado, como se ela fosse naquele momento, um pedaço de uma vida jogado fora, a página quase nua, com a sua pele branca foi rabiscada e jogada fora.
Apenas uma palavra apresentava a primeira cena daquela tragédia, era saudade o primeiro detalhe de um pano quase sem costuras, nodoado de lágrimas que caiam de uma face inerte.
Brincando com a vida, essa nostalgia levou os carretéis e agulhas que entrelaçavam a alegria dos amantes poeticamente belos, na passagem dos dias as suas vidas perderam-se no caminho e hoje o que se compõe, são restos de coisas emaranhadas de sentimentos próximos do passado. Tudo se denuncia na pulsação dos desejos guardados estendidos diante de uma lembrança, e a mulher com as suas mãos frias chora lembrando de um tempo que existia uma lareira acesa na sua vida e o inverno não era tão frio assim no seu coração.

quinta-feira, 25 de março de 2010

LEMBRANÇAS DE ELVIRA




Ela era uma menina doente, desde pequena já sofrera de uma coisa que lhe causara estranheza.
Solidão era o nome.
Segundo sua mãe já nascera assim.
Desde que Elvira começou a entender as coisas, seu olhar sempre estava fora do bando, perdendo-se de propósito constantemente, para encontrar-se em outro mundo.
Com o tempo isso se tornou muito sério e Elvira cada vez mais era incompreendida na sua particularidade.
Uma das coisas que ela mais adorava era ver, no outono, as folhas secas caírem não entendendo direito o fenômeno, Elvira só sabia que ficava ainda mais triste nessa época e a delicadeza das folhas amareladas caindo pareciam com a cena dos seus olhos quando choravam.
Com o tempo Elvira passou a fugir de casa e dentro do seu mundo se compreendia no ato de ser e existir. Fluindo.

sábado, 13 de março de 2010

ADORNANDO A SOLIDÃO DE UMA MANHÃ




 A moça na janela olhava com sutileza os pingos de chuva que fluíam das nuvens densas.
Seu olhar perdido nos delírios daquela ilusão de chuva ansiava por descobrir os sabores de tantos poemas celestes que agora, caiam em suas mãos pequenas e delicadas.
A essência das flores perfumadas que aromatizam a manhã da moça sorridente, é trazida pelo vento que chega sorrateiro para não roubá-la da paisagem em que está inundada.
Uma melancolia nasce, chega com a leveza dos pingos que se despendem choramingado nas margaridas que por gentileza nasceram nas pequenas brechas que as pedras deixaram aleatoriamente.
Quem via aquela cena, jurava que nada demais importante estaria acontecendo naquela manhã com semblante de pintura, uma manhã agasalhada com seus cachecóis.
 Mas alimentando de alegria os olhos daquela moça, um casulo se rompeu e o velho canteiro de flores se alegrou com a chegada colorida de uma borboleta ainda menina, mas que carregava nas suas asas a alegria de uma primavera.