terça-feira, 31 de agosto de 2010

Para o Sr. Longínquo com devoção – 1ª carta depois de passadas estações




Assim disse a moça da previsão do tempo que o dia seria nublado com uma rápida passagem de chuva pela região, o motivo seria uma frente fria vinda do oceano.
E eu pensei comigo: chuva hoje!
E ele tão longe, será que choverá também na sua terra?
Parecia mais premonição, já que nos últimos dias eu andava me ausentando de sol.
Já não era previsão que as nuvens viriam para mim.
Naquela manhã preparada de ansiedade, em mim se formava o nome dele como um vulcão adormecido, despertando depois de uma história quase apagada.
Um poço perfurado dentro do meu dia composto de deserto e saudade.
E tudo vem, brotando como água salobra vinda dos olhos.
Mais o amor e o vinho guardado ainda estão à espera de um brinde.
E a saudade destilada se faz cada dia mais forte aqui dentro desse barril de lembranças.
Indecifrável é esse ciclo sem começo nem fim, e que existe dentro de mim chamando o teu nome.
Sr. Longínquo, tudo que sinto ainda está aqui.
Agora a chuva já existe na sua poesia molhada.
Arfando no galho dos dias, está o casulo da existência esperando por nós.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

DE CASO COM DESTINO



As mãos trêmulas com o peso do passado procuravam um rumo.
Só sentia o corpo gelado como madrugada de nevasca.
Assim ela chegou de forma inesperada como acidente em curva perigosa, era a saudade.
E o coração ficou trincado como lago congelando na superfície.
A prótese implantada não conseguiu suportar a pressão, e novamente estava o destino sem poder ser percorrido sem marcas explicitas na sua vida.
A tristeza escondida na escuridão dos dias existia em agonia. O amor que ainda não sabia quem era, só sabia que existia.
A lembrança decidiu abrir as cortinas para aqueles olhos que agora pensavam em chorar.
Mais tarde era um sonho longe de percorrer.
Há, sim era muito longe.
Brincar de fazer origami com tempo quando a imaginação já não tem asas pra voar.
Os joelhos estão feridos de preces rogadas, e os olhos já não acreditam no milagre da cruz.
E os temores infantis ainda estão guardados no porão da uma vida.
Abrir a porta dos medos; ela ousará?
Não. Não ousará. Sentir já dói muito.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

DELÍRIOS



O louco acontecia no seu delírio, eu acontecia nos delírios pecaminosos da carne, no louco.
Somente de alucinações e desejos já foi mais da metade de mim, o que sobrou doei para a solidão que ficou.
Há pessoas que nunca dizem adeus.
Essa velha casa de herdeiro é mesmo assim, morada antiga e perene.
Museu de relíquias, frases aleatórias que ficaram impregnadas. Ponte de lembranças, dando passagem para o acontecer agora, se o momento se faz propício.
Cheiro de lençol guardado.
Herança de olhares devotados.
Lembrança que é fogo em noites escuras.
A indecisão dos cheiros e suor suspensos no hálito quente da noite.
Vagando no quarto estavam pensamentos ainda trêmulos e ofegantes.
Louco, acrescentei alguns temperos a minha vida, depois de provar do teu paladar.
 Sua loucura veio e levou meus últimos suspiros.



terça-feira, 3 de agosto de 2010

NO LENÇO DA SAUDADE ACENANDO DESILUSÕES




As horas cansadas se aproximavam das dezoito, o dia terminava quente sob o céu avermelhado da cidadezinha recatada com aparência de interior.
No corpo deitado do horizonte reinava o crepúsculo que se insinuava acenando adeus. Derramada naquela despedida do dia, estavam suas lágrimas.
Outro mundo girava na mente do moço a observar a jornada poética do dia que dava seus últimos suspiros.
Despedida mesmo, era a sua história que se fora no emaranhado das desilusões, a criatura tinha um brilho forte nos olhos que eram marejados de mistério.
Observava a noite que vinha no seu galope lento.
O amante desnorteado não sabia o que fazer nas próximas horas, nunca se sabe, pensava.
Depois do acontecimento ele não sabia ser, se não um homem infeliz e solitário.
Estava a um quilometro de casa, desde que se perderá nos seus pensamentos, caminhar deixava sua alma leve.
Para ele o vazio o acompanhava, tudo era como sempre, a tristeza, o lugar estranho onde viveria.
Chorava quase sempre escondido  dissimulando a ferida aberta.
Isso doía.
Fechou os olhos e por um tempo viveu em pensamentos, talvez tenha adormecido sua alma de cansaço.
Havia dias que ele era assim.
Noite.