quarta-feira, 27 de outubro de 2010

INTROSPECÇÃO


Não estou no começo nem no fim, sou o olho do furacão.
Permaneço perdida na estação que o tempo abandou.
Há horas em que meu ser procura se encontrar no lugar que nunca se perdeu, não sabendo em que terra, tempo, alma ou vida se descobri ao confrontar-se com os seus próprios tumultos.
A fuga seguiu amedrontada de um ser que emergiu de dentro, espírito talvez.
Matéria e definição.
Corpos celestes passeiam por a minha paisagem.
Deslizo no que já foi dito, coisas que não se sentem com as mãos.
Eu queria era sentir a dualidade das coisas, do doce e do amargo.
Tocar no que queima.
Ser, muitas vezes, desconhecido e náufrago.
De repente percebo que o que procuro está bem perto, e essa coisa me olha.


domingo, 17 de outubro de 2010

MAIS UMA CARTA PARA O Sr. LONGÍNQUO - AINDA RENASCENDO


Hoje menino, eu resolvi contar essa história pra você.
Não se preocupe com as borboletas, elas não morreram para o meu coração.
Começavam assim, todos períodos de colheita. Adubava terra, plantava com carinho as sementes sonhando com os seus frutos e esperava pela chuva. Todos os dias eu esperava pela chuva.
O horizonte quase sempre estava vazio, ela na maioria das vezes aparecia em períodos tão distantes uns dos outros, que as sementes nasciam prematuras, isso me entristecia. No tempo da safra o cultivo estava desnutrido da essência que eu tanto precisava, a chuva não trouxera as flores, e os pássaros fizeram seus ninhos em outros lugares.
Como sobreviveria sem aquele sonho...
A esperança fugiu, foi embora pegando carona em outros olhos.
E a tristeza veio na dissipação dos amores, sonho de nuvem carregada de vida.
Mais ela viria, fazendo renascer do escuro dessa terra um broto.
Cuidei, devotei minhas mãos e o meu coração para um sonho e colhi uma safra de solidão.
Nesse deserto dentro, dentro dessa eterna busca ainda existo.
Farei-me nascente brotando nos olhos dessa saudade delirante.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

PARA LEMBRAR SOMENTE




Para que amarrotar o meu dia com uma lágrima inútil.
Nem muito menos jogar no lixo o brilho dos meus olhos, o contorno do meu sorriso alegre, quando sei que há estrelas que brilham para mim com sinceridade, já que há pessoas que são diamantes falsos, ruim é quando descobrimos isso.
Depois continuamos nossa busca incessante, o bom é acreditar na nova escolha.
Quantas cartas devotadas, e quantas delas hoje são para mim nada mais que um arquivo morto.
Papel mofado com o tempo.
Por acaso, hoje encontrei com uma dessas entre os meus papéis, reli e pensei: foi uma boa inspiração.
Mas, inspirações se dissipam junto à alma das palavras que se perdem quando os significados não mais existem para as retinas contempladoras.
Não somos nós que escolhemos se o dia vai se de sol ou chuva.
Simplesmente vivemos de acordo com tempo, hoje fez um belo dia de sol aqui dentro.