sexta-feira, 30 de outubro de 2009

EM NOME DA AUSÊNCIA


Como seria meu corpo sem a povoação de tuas paisagens?
Seria como alguém mutilado e despido de suas próteses.
Cambaleante e sem propósito.
Minha alma arde, minha boca clama pela tua. Pois você era o dique que represava a minha angústia que agora transborda desenfreada rumo a ilusões perdidas.
Estou em um lugar solitário e, como folha que cai vejo o vento levar meus sonhos, há cacos de vidro por onde piso.
Não vejo seu corpo, mas, sinto sua essência dispersa em cada canto e no livro dos meus dias contei ao tempo este instante pra falar do inefável que é viver tão longe.


Izabel Goveia e Ricardo Tomas

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

DISSIPADO-SE EM SOLIDÕES



Quando pensei em escrever um poema sobre o deserto, nunca consegui entender o porquê de tal vontade.
Muitas vezes peguei a esferográfica para delinear suas curvas através das minhas palavras, mas quando me via lá estava eu, perdida na sua secura, no seu cansaço, na sua sede, nas suas miragens. Quantas vezes senti a minha garganta arder, meus olhos secos e cheios de areia quererem lágrima.
Experimentei a fúria do seu calor nos calos dos meus pés, quantas vezes pensando no deserto, desejei ser um manancial para os pobres viventes que nele habitam.
Uma sombra de nuvem para os que se molham de sol.
Uma súplica para os desabrigados de esperança.
O deserto é um lugar que clama por vida.
Os olhos do deserto sentem fome.
Procurei compreender quão grandemente era a minha dedicação por esse lugar tão repleto de solidões e percebi que, ele repousa dentro de mim.
E no deserto da minha solidão, o vento varre as dunas dos meus sonhos e tudo é pó.
Sou caravana carregada de ilusão.
Na noite que há em mim, é campo florido nos meus sonhos.
O céu cheio de estrelas abriga o frio da noite...
Tudo é inóspito, mas, existe vida.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

CHORANDO UMA PAISAGEM - inverno o ano inteiro


A moça chorou.
Mais parecia uma flor secando ao sol do que pássaro voando.
Caçador chegou e pá!
Lá vem ela em queda livre.
A feriu bem no peito, nunca vi um tiro tão certeiro.
Mas ela pensara: - Não chegarei a morrer.
Pois não viu nenhuma gota de sangue cair no chão.
Caçador, homem ruim, nem fez os primeiros socorros.
No chão a deixou.
Coitada!
Morreu sem saber que a sua dor era de amor.