sexta-feira, 24 de setembro de 2010

PARA ELA, UMA FLOR



A sua última herança da terra foi mortalha, branca e leve, estendida ao longo do seu corpo inerte.
Seus braços não mais carregavam o estandarte da sua vida.
Seus olhos eram velas apagadas pela ventania da noite.
A sua mortalha foi a sua bandeira de paz.
Ela se despediu de si mesma.
Pra que mundo vai nossos sentimentos quando morremos?
Alma também perece?
No dia da sua morte, ela quis morrer sozinha.
Nada de pessoas para segurar na sua mão e ouvir as suas últimas confissões.
Não quis deixar pra ninguém os seus pertences, eles como ela depois da morte, seriam naturezas mortas repletas de lembranças.
No criado-mudo permitiu uma fotografia que trazia nela a imagem congelada de um tempo feliz.
Também não deixou bilhetes de oferecimentos nem cobranças.
Ela amava tanto a solidão que morreu ao seu lado.
Subitamente um vento frio correu pela rua, era o primeiro dia de primavera.
As árvores também lhe ofertaram flores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário