segunda-feira, 16 de maio de 2011

ENTREGA PARA O SR. LONGÍNQUO – NÃO PLANTE SEM CHUVA


Na ausência da ave os abutres invadiram o refúgio e beberam os seus ovos, assim para vida daquele pássaro voar e brincar com o céu não fazia mais sentido algum.
O ninho estava abandonado.
O tempo estava indeciso naquele fim de tarde quando ela regressava pra casa.
No caminho de volta, os seus pés dividiam espaço com o vento leve e pequeno que varria algumas folhas que a figueira deixara escapar, penetrava também nos longos cabelos que caiam nos seus delicados ombros.
 A sombra de uma nuvem serviu de guarda-sol para ela e o aroma de chuva escapava das frestas do fim de tarde, provocando arrepios nos galhos umedecidos de sol das árvores.
 Mais uma vez o tempo escorregava junto ao dia, e ela lembrou que foi em um dia desses que ele se despediu da sua vida...
Momentaneamente se lembrou da solidão que carregava dentro, presa no seu ventre como um feto ganhando vida com o passar dias.
No vai e vem dessas lembranças ela organizava sempre a fuga para não sofrer, não levantar a poeira da mobília já abandonada.
À noite esses pensamentos a convidava para fugir, como vento forte querendo arrancar o barco do porto, mais ela sempre se prendia ao ancoradouro da sua vida com  
medo das tempestades que poderiam se formar no horizonte.
Mas o lugar existia e ela bem sabia, estava escondido no aconchego daqueles braços já não mais devotados a ela.
Isso era a dor da ferida aberta.
Ela não sabia se era sonho a paisagem, mais era longínquo o azul daquele mar.
Aquele mar que a inebriava de tanto amar.
Mais era uma lembrança e já era noite.
 


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