domingo, 7 de fevereiro de 2010

LACRIMEJANDO UM SONHO – serenando saudade




Não tenho idéia, nem ilusões.
As que me passam por aqui são resumos do que já foi um dia.
O pergaminho que está escrito a língua do tempo, ainda contem a tinta fresca dos rabiscos de uma vida, escorrendo nas minhas mãos impunes.
Um fantasma está refugiado nos escombros do bombardeio, e na permeabilidade da dor meu pensamento é uma nota perdida da harmonia, embrulhada em um pedaço de som vagando no ar, ninguém pode lhe ouvir, senão a poesia do seu existir.
Acidento-me nas crateras que foram abertas por a tempestade noturna.
Nessa escuridão que me abita, posso encontrar tudo o que anseio, tocar as coisas e senti-las minhas, e no despertar da minha consciência, posso abrir olhos e ainda assim tudo será penumbra para esse vôo raso.
O silencio se transborda em chuva, e no seu existir, tudo se faz no pequeno espaço que sobra no intervalo das gotas.
O sofrimento é um lagrimejar de sereno, uma reserva nostálgica de um manancial.
Um dia encontrei resquícios de uma alegria fingida, era um resto de maquiagem do palhaço que adormecera sobre o cansaço e as cobertas úmidas de uma madrugada gelada.
Tão encharcada é a saudade de um tempo, que se colhia flores não pra enfeitar seus mortos, mas, para adornar a casa em uma manhã dominical cheia de crianças correndo pela sala com os seus risos e gargalhadas festivas, com os seus olhos tão primaveras.
Na vida, nesses momentos solitários ouço as minhas pulsações arfando em um buraco negro.
Meu coração sempre me desconserta, quando está agonizando.
Penso na morte e me despeço.
Lembro da tarde que fugimos com quase nada nas mãos, apenas com um resto de sonhos guardado em nós.
Eu, e minha alma estamos em um lugar inabitado, sem o sonho-bússola que nos indique o caminho de casa.
Naquela tarde ainda sentíamos o cheiro do perfume doce que aquele sonho carregava.

2 comentários:

  1. Vontade de dizer uns palavrões...

    Foi quando...

    "o silêncio se transborda em chuva, e no seu existir, tudo se fez no pequeno espaço uqe sobra no intervalo das gotas"...

    me calou!

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