domingo, 6 de junho de 2010

HOSPEDARIA - Aromatizando Resquícios



Teus olhos eram tão cor de clorofila meu bem, por eles me inundei de verde.
Mas, meu bem, tudo naquele inverno era tão falso, parecia chuva quando fecha o céu de nuvens e não cai por medo de altura, assim ela se dissipa na sua atmosfera.
Igualmente o outono foi chegando como quem chega em terra estranha e teus olhos foram secando, descolorindo como um sol se pondo. E sua cor foi em mim sumindo tanto, que quase não te via mais no entrelaçado dos galhos da macieira que morava no meu quintal.
Desfazendo-se e eu me despedindo.
No compasso das horas e no acontecimento dos dias tudo se fez novamente em outro rosto, me deparei com olhos que cheiravam a café, olhos de café. Não entendi o mistério da sua cor, mais me cativaram.
Eles eram fortes e o seu amargo se misturavam a sua doçura, dando um sabor especial para as minhas manhãs geladas. Assustei-me com rápido o processo de metamorfose pelo qual eu era envolvida, e nesse processo de encantamento me refiz daqueles olhos que me deixaram acordada por noites a procurá-los na minha insônia.
Querê-los se tornou um vício.
Foi efeito quase imediato, sua cafeína se misturou aos meus sonhos e se tornou perene correndo pelos vasos sanguíneos, por tudo enfim que fosse meu.
Meu bem, tenho que te dizer que os olhos dele eram tão vivos, tão poéticos que um dia fui olhar a macieira que ti lembrava, e não vi nada mais que folhas outonais caídas no chão, mortas, quase incolor, senti tristeza por um momento, tenho que confessar.
Na carruagem que arratava o meu viver, eu andava em meio a um cafezal, e tudo se enchia de seu cheiro como se as sementes estivessem sendo fecundadas por a terra em uma conspiração perfeita.
Tão puras eram manhãs com seu aroma servido à mesa, a felicidade se espalhava entre os pães e as xícaras de porcelana devotadas a ele.
Feliz colhia tudo que aqueles olhos me davam e cada grão era fertilidade nos vastos campos que cobriam minha vida.
Mas, meu bem, o tempo passava e eu não me dava conta.
Um dia descobri que a safra passara e só restava o cheiro dele em uma xícara cheia de borra, fui no quintal e as folhas secas haviam sido varridas. Nada mais estava.
Sem cores e aromas do passado a manhã emergia, sei disso porque ela acontecia dentro de mim.
Também senti um cheiro de jasmim e crisântemos que entrava pela janela do meu quarto, então compreendi que as flores dos jardins não precisavam de estação para se tornarem esplêndidas.
Cultivando bem, até um casulo pode se abrir dentro, aqui dentro dessa paisagem quase morta.



Um comentário:

  1. de todos esse eh o q eu mais gostei!
    eu realmente gosto do q escreve!

    parabens pelo dom!

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